O Núcleo de Estudos em
História Social da Arte e da Cultura (NEHAC), criado
em 1994, no Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia, nasceu
de temas e perspectivas de análise que propiciaram a realização do doutorado da
Profª. Drª. Rosangela Patriota Ramos e do Prof. Dr. Alcides Freire Ramos, junto
ao Programa de Pós Graduação em História Social da Universidade de São Paulo, sob
a orientação do Prof. Dr. Arnaldo Daraya Contier, no período de 1987 a 1996, pois os dois
trabalhos foram frutos de pesquisas em nível de Doutorado Direto, que,
posteriormente, foram editadas sob os seguintes títulos: Vianinha – um
dramaturgo no coração de seu tempo (Rosangela Patriota, São Paulo: Hucitec,
1999) e Canibalismo dos Fracos: Cinema e História do Brasil (Alcides
Freire Ramos, Bauru: EDUSC, 2002).
Em verdade, o próprio
Professor Orientador é nacionalmente reconhecido como pesquisador da área, cujo
trabalho está voltado para discussões relativas aos diálogos entre História e
Música e, tendo como base sua grande experiência e competência intelectual,
orientou trabalhos que envolviam as possíveis conexões entre História e Teatro
e História e Cinema. Desse ponto de vista, o que aproximava o trabalho dos
Orientandos ao do Orientador era uma perspectiva teórica e metodológica, dada
em um debate que envolve os campos das Linguagens Artísticas, e como estas
poderiam contribuir tanto no âmbito da História Cultural como no campo da
História Política no Brasil Contemporâneo.
Nesse sentido, o trabalho da
Profª. Rosangela Patriota Ramos, por meio de um estudo sistemático da
dramaturgia de Oduvaldo Vianna Filho e da fortuna crítica sobre a mesma, ao
mesmo tempo em que analisou historicamente as estruturas formais e os conteúdos
temáticos das peças de Vianna, contribuiu para os estudos que envolvem
discussões sobre Arte e Política, História e Estética, além de refletir sobre a
atuação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) durante os anos de ditadura
militar, e de que maneira o tema da Resistência Democrática e seus embates
políticos puderam ser interpretados e analisados a partir da trajetória do referido
dramaturgo e sua mencionada produção artística.
A avaliação deste trabalho,
em termos acadêmicos, no Exame de Qualificação ficou sob a responsabilidade do
Prof. Dr. Jacó Guinsburg (ECA-USP), da Profª. Drª. Luzia Margareth Rago
(IFCH-UNICAMP) e do Prof. Dr. Arnaldo Daraya Contier (FFLCH-USP). Na defesa da
tese a banca foi composta da seguinte maneira: Prof. Dr. Ismail Xavier
(ECA-USP), Prof. Dr. Alcir Lenharo (IFCH-UNICAMP), Profª. Drª. Maria Helena
Capelato (FFLCH-USP), Prof. Dr. Fernando Novais (FFLCH-USP) e Prof. Dr. Arnaldo
Daraya Contier (FFLCH-USP). A referência à composição destas bancas de
avaliação tem o intuito de demonstrar que a preocupação interdisciplinar, não
só motivou o desenvolvimento da pesquisa, como a premissa a partir da qual o mérito
dos resultados acadêmicos foi julgado.
Por sua vez, o trabalho do
Prof. Alcides Freire Ramos, que elegeu como objeto de investigação o filme Os
Inconfidentes (1972, de Joaquim Pedro de Andrade) e sua repercussão em
nível nacional e internacional, trouxe uma grande contribuição ao debate Arte e
Política, História e Estética, além de analisar as reapropriações do tema da
Inconfidência Mineira, tanto pelos artistas, quanto pelos militantes
revolucionários, para construir e/ou interpretar a luta contra da ditadura
militar nas décadas de 1960 e 1970. Desta feita, elaborando um instigante
diálogo entre o tema da Luta Armada e o poder constituído.
A avaliação deste trabalho,
em termos acadêmicos, no Exame de Qualificação ficou sob a responsabilidade do
Prof. Dr. Ismail Xavier (ECA-USP), do Prof. Dr. Elias Thomé Saliba (FFLCH-USP)
e do Prof. Dr. Arnaldo Daraya Contier (FFLCH-USP). Na defesa da tese a banca
foi composta da seguinte maneira: Prof. Dr. Ismail Xavier (ECA-USP), Prof. Dr.
Jean-Claude Bernardet (ECA-USP), Profª. Drª. Laura de Mello e Sousa
(FFLCH-USP), Prof. Dr. Elias Thomé Saliba (FFLCH-USP) e Prof. Dr. Arnaldo
Daraya Contier (FFLCH-USP). A menção às bancas de avaliação, mais uma vez, visa
demonstrar a preocupação interdisciplinar, motivadora do desenvolvimento da
pesquisa, que norteou o julgamento de mérito do resultado acadêmico.
Estas rápidas apresentações
revelam que, por meio de objetos artísticos (Teatro e o Cinema), o processo
histórico brasileiro, nas décadas de 1960 e 1970, foi revisitado, com vistas a
interpretar a ação das esquerdas tanto no campo da Resistência Democrática,
quanto no âmbito da Luta Armada, dando origem a uma área de pesquisa bem
definida, a saber: Brasil Contemporâneo (décadas 1960 e 1970) a partir das
produções estéticas (Teatro e Cinema) na luta contra a Ditadura Militar –
Resistência Democrática e Luta Armada.
Em 1991, os referidos
Professores prestaram Concurso Público e ingressaram no então Departamento de
Ciências Sociais, hoje Instituto de História, da Universidade Federal de
Uberlândia, e a incorporação dos Profs. Drs. Alcides Freire Ramos e Rosangela
Patriota Ramos aos cursos de graduação em História da UFU contribuiu para que
novas temáticas e perspectivas de trabalho pudessem ser desenvolvidas pelos
discentes dos cursos de graduação. Assim, a partir de iniciativas
didático-pedagógicas e de iniciações à pesquisa nasceu, em 1994, o Núcleo e Estudos em História Social da
Arte e da Cultura (NEHAC).
A criação do NEHAC foi motivada pela
possibilidade de estudar momentos importantes do processo histórico brasileiro,
relativo à História Contemporânea, por intermédio de produções artísticas
(teatro, cinema, literatura, música, fotografia, artes plásticas, etc.). Assim,
a partir de problemáticas consagradas pela historiografia (Golpe de 1964,
Ditadura Militar, Resistência Democrática, Luta Armada, Indústria Cultural,
etc.) construíram-se os diálogos entre Arte e Política, História e Estética,
sendo que este último tem propiciado, nos últimos anos, a constituição de outro
campo de interesse bem definido, a saber: o da Estética da Recepção.
Tais perspectivas teóricas e
metodológicas permitiram a constituição de um campo de trabalho que dialoga
tanto com a produção historiográfica brasileira, como com temas e questões da
Teoria/Metodologia da História, da História Social e da História Cultural. Ao
lado disso, dada a especificidade dos objetos de pesquisa, a interlocução com a
História e a Historiografia do Teatro, do Cinema e da Literatura, entre outras,
tem sido uma constante.
Este procedimento tem
permitido a dessacralização da ideia de perenidade que, historicamente,
envolveu muitos trabalhos artísticos, especialmente aqueles que foram objeto de
análises que elegeram o tradicional campo da filosofia, Estética, como
referencial teórico e metodológico de trabalho. Geralmente, estas reflexões
privilegiam a obra, a sua constituição enquanto linguagem e os juízos de valor
nela contidos.
Outra perspectiva de
trabalho, presente em algumas pesquisas desenvolvidas em áreas específicas como
Artes Cênicas, Cinema, Música e Literatura, tem sido aquela que toma como
referência as discussões da área de Estética, e como esta acompanha a
trajetória de uma obra ou de um artista ao longo de um dado período histórico.
Nessas circunstâncias, o processo histórico surge como pano de fundo e a
autonomia criativa é compreendida pela evolução artística do criador ao longo
do tempo. Todavia, deve-se mencionar, por outro lado, a existência de
importantes reflexões que não devem ser descartadas, pois nos auxiliam muito na
constituição de uma perspectiva de trabalho, com o objetivo de desenvolver
procedimentos metodológicos para o campo de pesquisa histórica propriamente
dita.
Ao lado dessas realizações, devemos
acrescentar que no ano de 1999, com a criação do Programa de Pós-Graduação em
História da Universidade Federal de Uberlândia, o horizonte de expectativas
acadêmicas e formativas aumentou sensivelmente, bem como refinaram-se as discussões
e as propostas investigativas.
Nesse período, o NEHAC realizou Seminários Internos de Pesquisa ao lado de
atividades acadêmicas voltadas para a comunidade em geral, bem como promoveu as
seguintes atividades:
- Em 1998 organizou
a atividade de extensão Centenário de
Nascimento de Bertolt Brecht, que contou com uma oficina e palestra do
diretor teatral e escritor Fernando Peixoto, nas dependências da UFU e do
Teatro Municipal Grande Othelo;
- Em 2002, nas
dependências da UFU, promoveu o I
Simpósio de História e Cultura: Política – Estética – Alteridade;
- Em 2003 promoveu,
em parceria com o Programa de Pós-Graduação em História, a atividade de
extensão Versões do Mundo do Trabalho:
Tin Urbinatti e o Teatro Operário, que contou com uma oficina e palestra do
diretor teatral Tin Urbinatti;
- Fevereiro/2004 –
Oficina – História e Música: Questões Teóricas e Metodológicas – Prof. Dr.
Arnaldo Daraya Contier;
- Colaboração e
participação na Semana de História 2004 da UFU – Lembrar é Resistir: 40 anos do Golpe Militar de 1964;
- Colaboração e
participação na Oficina Cultura e
Sociedade ministrada pela Profª. Drª. Maria Elisa Cevasco – outubro/2004.
Em nível nacional, o NEHAC participou ativamente da criação do GT Nacional
de História Cultural da ANPUH, em 2001, e possui importante participação nos
Simpósios da ANPUH e dos Simpósios de História Cultural.
Assim, depois de muitos anos de atividade formativa, o trabalho começou a
render frutos, isto é, a formação de inúmeros Mestres e Doutores, sendo que
muitos deles já estão profissionalizados e atuando tanto no Ensino Médio e
Fundamental quanto no Ensino Superior.
Em decorrência dessa situação, o NEHAC, até então um núcleo de pesquisa,
começa, a pouco e pouco, se constituir em uma Rede de Pesquisa e de Trabalho e
com intuito de realizar a primeira apresentação pública dessas interlocuções
realizaremos o I Seminário do Núcleo de
Estudos em História Social da Arte e da Cultura - NEHAC: História - Estética -
Política – Recepção.